quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Só de Sacanagem

Só de sacanagem - de Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos, quantas vezes minha esperança será posta a prova? Tudo isso que está ai no ar, malas, cuecas que voam estupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós. Pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais.
É certo que tempos dificeis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração ta no escuro. A luz é simples... regada ao conselho simples de meu Pai, minha Mãe, minha Avó e os justos que os precederam.
- Não roubarás!
- Devolva o lápis do coleguinha.
- Esse apontador não é seu minha filha.
Pois bem! Se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear, mais honesto ainda vou ficar... só de sacanagem!
Dirão: deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba.
E eu vou dizer: não importa, será esse meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: é inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi: não adimito! Minha esperança é imortal. E eu repito: ouviram? É imortal.
Sei que não da pra mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

Obs.: acho este poema sensacional, ele retrata muito bem a conduta de uma grande massa do nosso país e de uma minoria que ainda acredita em mudança...

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